sexta-feira, 17 de março de 2017

Um texto lindo sobre a relação mãe / filha - por Mônica Salgado




Estou compartilhando com vocês um texto escrito pela Mônica Salgado, diretora de redação da Revista Glamour que eu adoro!
Ela escreveu esse texto na sua coluna Carta da Môni. Diz respeito sobre a relação mãe/ filha especificamente a relação dela.
Um texto lindo, profundo, reflexivo, intenso. Na minha opinião, foi de grande coragem partilhar essa história com os leitores, e a admiro ainda mais por isso.
Escrever sobre esse assunto não é fácil, é sempre uma relação intensa, complexa seja qual for o sentido que tenha.
Este texto pode ajudar a muitas de nós mulheres, e mães a refletir sobre nossa relação  como filhas e como mãe que somos.
Quantas vezes carregamos dentro nós mágoas, culpas, pesos, tristezas que não nos fazem bem.
Até conseguirmos entender, absorver que ninguém é perfeito, que só podemos dar o que temos e sabemos, o que conhecemos, e sempre fazendo o nosso melhor. Nossas mães com certeza fizeram o melhor que sabiam e que podiam, e hoje estamos nessa situação também.
Então deste texto tiro as lições de gratidão, perdão, e o exercício de sempre reconhecer atitudes positivas dos acontecimentos e das pessoas. O que adianta focar no que achamos errado ou não suficiente. Sempre há um lado positivo, basta mudarmos o olhar.
Não somos iguais, e a forma de demonstrar o amor também não é, basta entender e identificar a de cada um .
Obrigada Mônica Salgado por esse texto belíssimo.


Texto da Môni na ìntegra

   " Mães e filhas. Especialmente filhas mulheres. Taí a relação mais intrigante e complexa de todos os tempos. Na frente, até da mãe-filho-homem, pai-filha-quando-vira-adolescente, mãe-babá-do-filho, mulher-sogra e etc,, A ligação é tão visceral-bem , literalamente, dada a concepção, a gestação e o dar à luz - que as duas almas se fundem e se confundem num balé simbiótico até.... diz a psicologia, os 2 anos da criança, quando o pai ou outra figura entra para triangular a relação. Antes disso, não existe a mãe e o bebê :existe a mãe-bebê e o bebê-mãe.
     As emoções, angústias e inseguranças das nossas mães são as nossas por muito tempo. Percebemos o mundo ,, da maneira quase irreversível, pelos olhos desde a gestação. Acho isso mágico e assustador. Caramba, somos coadjuvantes da nossa própria existência enquanto as mães protagonizam nossa vida. É marca indelével. Não consigo pensar numa relação mais definidora de quem nos tornaremos. Inclusive se partirmos do modelo dela para seguir o caminho oposto.
     Não tenho uma relação ótima com minha mãe. Eu sei, ela sabe. Não falta amor, mas falta calor.
Intimidade.Torcida. O reconfortante "estou aqui pro que der e vier". Eu sei, ela sabe. O que3 não sei se ela sabe é que isso gera em mim um buraco que nada preenche. Um limbo de amor, uma insegurança esfomeada de elogios alheios (dela eles não vêm), uma dificuldade crônica de lidar com críticas ( as críticas que eu conheço bem) e uma ambição, hoje equilibrada mas muitas vezes desmedida, de chegar lá. Lá onde e pra quê mesmo? Não importa desde que ela se orgulhe - desconfio que esse seja o objetivo de grande parte de nós, para o que trabalhamos, o que no fundo nos move a vida toda : fazer nossos pais se orgulharem da gente. Conheço muuuitas pessoas buscando isso,  umas mais e outras menos conscientemente. E olha que estou falando de uma galera independente, analisada, madura e bem -sucedida hein?
     Bem, sei que não estou só. Não estamos, mãe. Talvez a vida não nos tenha conduzido para a relação de parceria de Sacha e Xuxa ( que óbvio, deve ter lá suas questões, mas é íntima e afetuosa, tire a prova na pág. 58). Talvez nunca possamos dizer ao mundo que somos melhores amigas. Talvez você não passe a me chamar de filha, em vez de Mônica. Mas por outro lado, talvez eu não fosse jornalista se não fosse por você, professora de gramática das boas, devoradora voraz de revistas, sempre me estimulando a ler e escrever. Talvez eu não fosse quem sou se você não tivesse me esperado cantar o hino antes de entrar na sala de aula todos os dias do ano de 1987, quando mudei de colégio e demorei pra me adaptar. Talvez eu não fosse independente como sou se você não me deixasse sair pela cidade de ônibus e metrô aos 13 anos, pra fazer meus testes de modelo - sim ,tive esse momento, fiz comerciais pra TV. Talvez eu não trabalhasse com moda se você, toda vaidosa não exercitasse meu senso fashion precocemente em it-grifes (ehehe, quem tem mais de 30 lembra) como Pakalolo e Giovanna Baby. Talvez eu não fosse estupidamente romântica/dramática senão tivesse ouvido tantas vezes você cantarolar chorosa "Desculpe o Auê", da Rita Lee, a cada discussão com o papai.
     São muitos "talvez", mas uma certeza: você fez o melhor que pode. O melhor que seus recursos internos permitiram que fizesse. O melhor que suas feridas com sua mãe te possibilitaram fazer. A gente dá o que tem. Eis uma verdade universal. Precisei de mais de uma década de terapia para sacar isso e ser grata, muito grata pelo, pelo que tenho. Porém, confesso  que muitas vezes ainda te levo pra sessão!
     Pode ser que meu filho um dia se sinta da mesma forma que descrevo. Claro, eu sou esse pacote de qualidades e defeitos que engloba eu mesma, você, a vó Neide, a vó Arminda....não somos nem de longe perfeitas - nem a Xuxa nem a Sacha são. Mas se eu estou aqui, com um filho precioso me esperando em casa, de alma leve e coração aberto, te escrevendo isso tudo, é porque deu certo. Fomos mães suficientemente boas.
     E as relações seguirão assim até que ,um dia, um pai perfeito e uma mãe perfeita, filhos de pais perfeitos, criarão um filho perfeito de um jeito perfeito. Enquanto isso, a gente vai tentando se melhorar. Por nós e por eles, os nossos filhos.
Te amo viu?
       Mônica Salgado


Revista Glamour Edição Março 2017





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